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Segurança do Paciente – Saúde Mental Profissional da Saúde

Segurança do Paciente – Erros Medicação é a temática do Hacking Health 2019. Este é o meu terceiro ano como voluntária deste movimento. Nos anos anteriores tive a oportunidade de participar da discussão dos seguintes temas:

  • Prevenção a doenças crônicas;
  • Saúde Pública falta dinheiro ou falta gestão?
  • Desafios do envelhecimento populacional

Nestes 03 anos participei de diversas ações com profissionais de saúde (público, particular, filantrópico), empreendedores, gestores, designers, pessoal da tecnologia e os famosos makers. (Se você nunca participou de uma ação Hacking Health eu recomendo.

Excelentes ideias e protótipos surgiram período e a comunidade de um modo geral se beneficiou.

Porém, o que chama atenção desde a primeira edição que participei foi constatar que não importa o ambiente, pode ser saúde pública, saúde particular, ter estrutura ou não ter estrutura. Em todas as edições questões referentes a saúde mental do profissional da saúde veio à tona.

Presenciei falas do tipo:

“…Não adianta ter a tecnologia mais avançada se estamos desmotivados…”

“…Enquanto não formos tratados com respeito pelos superiores fica difícil estar sempre bem para atender os pacientes…”

“…Trabalhando em 3 empregos e virando plantão não tem como decorar os protocolos…”

 

Eu sou psicóloga com especialização em saúde mental sendo que tive a oportunidade de desenvolver minha carreira parte no serviço público (Programa Saúde da Família, Caps, Hospita gerall, etc) e parte no particular. E assim como ocorreu nas ações do Hacking Health puxei pela memoria e constatei que esta mesma discussão no ambiente de trabalho geralmente é evitada.

O desafio do Hacking Health em 2019 é sobre como diminuir os erros na medicação. E a pergunta óbvia deve ser feita:

Será que se a saúde mental do profissional não estiver bem as chances de erro na medicação aumentam?

E esta questão é internacional. Nos EUA de acordo com a pesquisa sobre Qualidade da Enfermagem Interdisciplinar da Fundação Robert Wood Johnson (INQRI), os enfermeiros experimentam depressão com o dobro da taxa do público em geral. A depressão afeta 9% dos cidadãos comuns, mas 18% dos enfermeiros experimentam sintomas de depressão.

Ironicamente os profissionais da saúde por uma série de razões (medo de perder o emprego, medo que a equipe o considere descompensado, receio de demonstrar fraqueza, etc) demoraram a identificar que não estão bem mentalmente, geralmente atribuem o desanimo, a desmotivação a falta de concentração ao fato de estarem sobrecarregados ou com falta de recursos no ambiente de trabalho ou até mesmo a falta de valorização ou reconhecimento.

Inventaram um nome para isto: Síndrome de Burnout

Traduzindo ao pé da letra quer dizer queimado por completo, trata-se de um esgotamento generalizado.

Em meados da década de 70, surgiram os primeiros estudos, nos Estados Unidos, identificando “burnout”  como uma síndrome que se manifesta pelo esgotamento experimentado por trabalhadores em consequência de vivências negativas no trabalho

 

Os sintomas são muito semelhantes ao estresse.

 

Porém, Burnout está sempre relacionado a uma queixa do trabalho que pode derivar de um estresse crônico e prolongado. O estresse é algo transitório e o Burnout é um estresse continuado onde à pessoa se apresenta cada vez mais exausto. Estudos demostram que o perfil psicológico é de um profissional muitas vezes competitivo ou que gosta de tudo certinho, com tendência a ser perfeccionista, entre outras.

Após a doença se instalar é comum ao profissional apresentar falta de envolvimento com o trabalho, estresse crônico, insensibilidade para com o outro, irritabilidade e ironia para com os colegas de trabalho.

E o que as empresas estão fazendo para evitar que isto ocorra?

No decorrer do ano espero que o Hacking Health promova rodas de conversas e clínicas com gestores, especialistas na área de Gestão de Pessoas para a troca de experiencias exitosas neste sentido. Está claro para as entidades qual o tamanho do prejuízo em não tomar atitude alguma? Será que, por exemplo, em cuidando da saúde mental do profissional isto não teria efeito direto na Qualidade do atendimento do paciente e hipoteticamente diminuir o tempo de internação o que impacta diretamente nos custos?

Mais cedo ou mais tarde (espero que mais cedo) as entidades terão que ter este debate. Porém estamos falando da saúde do indivíduo e o indivíduo não deve delegar sua saúde e bem-estar para que a empresa cuide. Sim é preciso dar conta do dia a dia e das demandas, porém, tudo é cristalinamente simples: Ficar doente e/ou esgotado podendo ficar até mesmo internado em pouco agregará e o mundo continuará a girar mesmo. Precisamos ser nossa prioridade número 1.

Os profissionais da saúde precisam desse cuidado mental e muitos não admitem precisar de cuidados, pois estão no papel de cuidadores. Falar sobre suas experiências, o que sentem, as possíveis causas, para poder cuidar do outro sem prejudicar a produtividade de sua equipe

Ao deixar de abordar o tema colocamos em risco a vida do paciente, a do profissional e perdemos a oportunidade de orientar e aprimorar sobre Saúde Mental além de diminuir o estigma, preconceito e discriminação que existente.

Temos uma longa jornada pela frente muita coisa para aprender, pois não existe receita pronta, porém tudo começa com uma ação simples: Começar a falar a respeito!

 

Sobre a autora do Post:

Alessandra Fischer é voluntária do Hacking Health Brasil e a primeira líder o capítulo Santa Catarina.25 anos desenvolvendo ações relacionadas a Saúde Pública mais especificamente em Saúde Mental com passagens pela Secretaria Municipal de Saúde Joinville. Fundação Zerbini, SPDM e Hospital Regional Joinville. Nestas localidades teve a oportunidade de desenvolver diversas ações desde o acolhimento, apoio terapêutico aos pacientes e familiares, terapia breve e coordenação de grupos terapêuticos

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